Presságio
O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…
“Presságio” também conhecido por “Amor”, do Ortónimo Fernando Pessoa, foi publicado no dia 24 de Abril de 1928.
Significado de Presságio:
•Prognóstico sobre o futuro
•Pressentimento
Esquema Rimático de “Presságio” A B A B
Análise das Quadras
2º Quadra
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…
Com esta quadra, o autor pretende descrever as inquietações dos apaixonados que não sabem como reagir aos seus próprios sentimentos.
Se os sentimentos forem expressados, é corrido o risco de parecerem exagerados e desproporcionados mas se, por outro lado, os sentimentos não forem expostos, o amor parecerá falso aos olhos dos outros.
5º Quadra
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…
Nesta quadra, Pessoa explica que o próprio poema é uma declaração de amor e que, por essa razão, já não é necessário passar por todas as complicações anteriormente citadas.
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