sexta-feira, 30 de maio de 2014

Presságio de Fernando Pessoa



Presságio

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…








“Presságio” também conhecido por “Amor”, do Ortónimo Fernando Pessoa, foi publicado no dia 24 de Abril de 1928.


Significado de Presságio:
•Prognóstico sobre o futuro
•Pressentimento


Esquema Rimático de “Presságio”       A B A B











Análise das Quadras


2º Quadra
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…




Com esta quadra, o autor pretende descrever as inquietações dos apaixonados que não sabem como reagir aos seus próprios sentimentos.

Se os sentimentos forem expressados, é corrido o risco de parecerem exagerados e desproporcionados mas se, por outro lado, os sentimentos não forem expostos, o amor parecerá falso aos olhos dos outros.







5º Quadra
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…


Nesta quadra, Pessoa explica que o próprio poema é uma declaração de amor e que, por essa razão, já não é necessário passar por todas as complicações anteriormente citadas.

























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