sexta-feira, 21 de março de 2014

Os Maias - Geração 70

Assim se designa o grupo de jovens intelectuais portugueses que, primeiro em Coimbra e depois em Lisboa,manifestaram um descontentamento com o estado da cultura e das instituições nacionais. O grupo fez-se notar a partir de 1865, tendo Antero de Quental como figura de proa e de maior profundidade reflexiva, e integrando ainda literatos como Ramalho Ortigão, Guerra Junqueiro, Teófilo Braga, Eça de Queirós, Oliveira Martins, Jaime Batalha Reis e Guilherme de Azevedo. Juntos ou, como sucedeu mais tarde, trilhandocaminhos de certa forma divergentes, estes homens marcaram a cultura portuguesa até ao virar do século(se não mesmo até à República), na literatura e na crítica literária, na historiografia, no ensaísmo e napolítica.Os homens da Geração de 70 tiveram possibilidade e, sobretudo, apetência de contacto com acultura mais avançada da Europa como não se via em Portugal desde o tempo da formação de um Garrett ede um Herculano. Puderam, pois, aperceber-se da diferença que havia entre o estado das ciências, dasartes, da filosofia e das próprias formas de organização social no país e em nações como a Inglaterra, aFrança ou a Alemanha. Em consequência, esta juventude cosmopolita nas leituras, liberal e progressistanão se revia nos formalismos estéticos que grassavam nem naquilo que consideravam ser a estagnaçãosocial, institucional, económica e cultural a que assistiam.O seu inconformismo havia de se manifestar emdiversas ocasiões, com repercussões públicas dignas de registo. Em 1865 é despoletada a chamadaQuestão Coimbrã, que opôs o grupo, a pretexto de uma obra literária de mérito discutível, aoultrarromantismo instalado que António Feliciano de Castilho personificava. Travou-se uma acesa polémica,à qual subjaziam grandes diferenças ao nível das referências estéticas mas também ideológicas. O gruporeunir-se-ia depois na capital, formando o Cenáculo, e em 1871 organizou as Conferências Democráticas doCasino Lisbonense, com as quais chamou definitivamente a atenção da sociedade.Nos anos seguintes,embora a atitude de crítica e de intervenção cultural e política se mantivesse, os membros do grupo foram definindo caminhos pessoais independentes, ora dedicando-se mais a umas atividades, ora a outras. 


Antero suicidou-se em 1891, e dir-se-ia que esse gesto simboliza o destino destes homens a caminho do final do século, em desilusão progressiva com o país e o sentido das suas próprias vidas.


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