sexta-feira, 30 de maio de 2014

Presságio de Fernando Pessoa



Presságio

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…








“Presságio” também conhecido por “Amor”, do Ortónimo Fernando Pessoa, foi publicado no dia 24 de Abril de 1928.


Significado de Presságio:
•Prognóstico sobre o futuro
•Pressentimento


Esquema Rimático de “Presságio”       A B A B











Análise das Quadras


2º Quadra
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…




Com esta quadra, o autor pretende descrever as inquietações dos apaixonados que não sabem como reagir aos seus próprios sentimentos.

Se os sentimentos forem expressados, é corrido o risco de parecerem exagerados e desproporcionados mas se, por outro lado, os sentimentos não forem expostos, o amor parecerá falso aos olhos dos outros.







5º Quadra
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…


Nesta quadra, Pessoa explica que o próprio poema é uma declaração de amor e que, por essa razão, já não é necessário passar por todas as complicações anteriormente citadas.

























quarta-feira, 28 de maio de 2014

Quadros de Amadeo de Souza Cardoso

Amadeo de Souza Cardoso



Almada Negreiros 



Ortónimo de Fernando Pessoa

Fernando Pessoa conta e chora a insatisfação da alma humana. A sua precaridade, a sua limitação, a dor de pensar, a fome de se ultrapassar, a tristeza, a dor da alma humana que se sente incapaz de construir e que, comparando as possibilidades miseráveis com a ambição desmedida, desiste, adormece “num mar de sargaço” e dissipa a vida no tédio.
Os remédios para esse mal são o sonho, a evasão pela viagem, o refúgio na infância, a crença num mundo ideal e oculto, situado no passado, a aventura do Sebastianismo messiânico, o estoicismo de Ricardo Reis, etc.. Todos estes remédios são tentativas frustradas porque o mal é a própria natureza humana e o tempo a sua condição fatal. É uma poesia cheia de desesperos e de entusiasmos febris, de náusea, tédios e angústias iluminados por uma inteligência lúcida – febre de absoluto e insatisfação do relativo.

A poesia está não na dor experimentada ou sentida mas no fingimento dela, apesar do poeta partir da dor real “a dor que deveras sente”. Não há arte sem imaginação, sem que o real seja imaginado de maneira a exprimir-se artisticamente e ser concretizado em arte. Esta concretização opera na memória a dor inicial fazendo parecer a dor imaginada mais autêntica do que a dor real. Podemos chegar à conclusão de que há 4 dores: a real (inicial), a que o poeta imagina (finge), a dor real do leitor e a dor lida, ou seja, intelectualizada, que provém da interpretação do leitor.

 


Características temáticas

· Identidade perdida (“Quem me dirá sou?”) e incapacidade de auto-definição (“Gato que brincas na rua (...)/ Todo o nada que és é teu./ Eu vejo-me e estou sem mim./ Conhece-me e não sou eu.”)

· Consciência do absurdo da existência

· Recusa da realidade, enquanto aparência (“Há entre mim e o real um véu/à própria concepção impenetrável”)

· Tensão sinceridade/fingimento, consciência/inconsciência

· Oposição sentir/pensar, pensamento/vontade, esperança/desilusão

· Anti-sentimentalismo: intelectualização da emoção (“Eu simplesmente sinto/ Com a imaginação./ Não uso o coração.” – Isto)

· Estados negativos: egotismo, solidão, cepticismo, tédio, angústia, cansaço, náusea, desespero

· Inquietação metafísica, dor de viver

· Neoplatonismo

· Tentativa de superação da dor, do presente, etc., através de:

- evocação da infância, idade de ouro, onde a felicidade ficou perdida e onde não existia o doloroso sentir: “Com que ânsia tão raiva/ Quero aquele outrora!” – “Pobre velha música”

- refúgio no sonho, na música e na noite

- ocultismo (correspondência entre o visível e o invisível)

- criação dos heterónimos (“Sê plural como o Universo!”)

· Intuição de um destino colectivo e épico para o seu País (Mensagem)

· Renovador de mitos

· Parte de uma percepção da realidade exterior para uma atitude reflexiva (constrói uma analogia entre as duas realidades transmitidas: a visão do mundo exterior é fabricada em função do sentimento interior)

· Reflexão sobre o problema do tempo como vivência e como factor de fragmentação do “eu”

· A vida é sentida como uma cadeia de instantes que uns aos outros se vão sucedendo, sem qualquer relação entre eles, provocando no poeta o sentimento da fragmentação e da falta de identidade

· O presente é o único tempo por ele experimentado (em cada momento se é diferente do que se foi)

· O passado não existe numa relação de continuidade com o presente

· Tem uma visão negativa e pessimista da existência; o futuro aumentará a sua angústia porque é o resultado de sucessivos presentes carregados de negatividade




As temáticas:

ü O sonho, a intersecção entre o sonho e a realidade (exemplo: Chuva oblíqua – “E os navios passam por dentro dos troncos das árvores”);

ü A angustia existencial e a nostalgia da infância (exemplo: Pobre velha música – “Recordo outro ouvir-te./Não sei se te ouvi/Nessa minha infância/Que me lembra em ti.” ;

ü Distância entre o idealizado e o realizado – e a consequente frustração (“Tudo o que faço ou medito”);

ü A máscara e o fingimento como elaboração mental dos conceitos que exprimem as emoções ou o que quer comunicar (“Autopsicografia”, verso “O poeta é um fingidor”);

ü A intelectualização das emoções e dos sentimentos para a elaboração da arte (exemplo: Não sei quantas almas tenho – “O que julguei que senti”) ;

ü O ocultismo e o hermetismo (exemplo: Eros e Psique)

ü O sebastianismo (a que chamou o seu nacionalismo místico e a que deu forma na obra Mensagem;

ü Tradução dos sentimentos nas linguagem do leitor, pois o que se sente é incomunicável.


Características estilísticas

· A simplicidade formal; rimas externas e internas; redondilha maior (gosto pelo popular) que dá uma ideia de simplicidade e espontaneidade

· Grande sensibilidade musical:

- eufonia – harmonia de sons

- aliterações, encavalgamentos, transportes, rimas, ritmo

- verso geralmente curto (2 a 7 sílabas)

- predomínio da quadra e da quintilha

· Adjectivação expressiva

· Economia de meios:

- Linguagem sóbria e nobre – equilíbrio clássico

· Pontuação emotiva

· Uso frequente de frases nominais

· Associações inesperadas [por vezes desvios sintácticos – enálage (“Pobre velha música”)]

· Comparações, metáforas originais, oxímoros

· Uso de símbolos

· Reaproveitamento de símbolos tradicionais (água, rio, mar...)





- Coexistem 2 correntes:

- Tradicional: continuidade do lirismo português (saudosismo)

- lírica simples e tradicional – desencanto e melancolia

- Modernista: processo de ruptura - heterónimos

- Pessoa ortóniomo (simbolismo, paulismo, interseccionismo)

Na poesia de Fernando Pessoa como ortónimo coexistem duas vertentes: a tradicional e a modernista.

Alguns dos seus poemas seguem na continuidade do lirismo português outras iniciam o processo de ruptura, que se concretiza nos heterónimos ou nas experiências modernistas.

A poesia, a cujo conjunto Pessoa queria dar o título Cancioneiro, é marcada pelo conflito entre o pensar e o sentir, ou entre a ambição da felicidade pura e a frustração que a consciência de si implica (como por exemplo no poema Ela canta, pobre ceifeira nos versos “O que em mim sente ‘stá pensando./Derrama no meu coração”).

Fernando Pessoa procura através da fragmentação do “eu” a totalidade que lhe permita conciliar o pensar e o sentir. A fragmentação está evidente por exemplo, em Meu coração é um pórtico partido, ou nos poemas interseccionistas Hora absurda , Chuva oblíqua e Não sei quantas almas tenho (verso “Continuamente me estranho”). O interseccionismo entre o material e o sonho, a realidade e a idealidade, surge como tentativa para encontrar a unidade entre a experiência sensível e a inteligência.

A poesia do ortónimo revela a despersonalização do poeta fingidor que fala e que se identifica com a própria criação poética, como impõe a modernidade. O poeta recorre à ironia para pôr tudo em causa, inclusive a própria sinceridade que com o fingimento, possibilita a construção da arte.




Temas


Sinceridade/fingimento

Intelectualização do sentir = fingimento poético, a única forma de criação artística (autopsicografia, isto)

Despersonalização do poeta fingidor que fala e que se identifica com a própria criação poética

Uso da ironia para pôr tudo em causa, inclusive a própria sinceridade

Crítica de sinceridade ou teoria do fingimento está bem patente na união de contrários

Mentira: linguagem ideal da alma, pois usamos as palavras para traduzir emoções e pensamentos (incomunicável)


Consciência/inconsciência

Aumento da autoconsciência humana

Tédio, náusea, desencontro com os outros (tudo o que faço ou medito)

Tentativa de resposta a várias inquietações que perturbam o poeta


Sentir/pensar

Concilia o pensar e o sentir

Obsessão da análise, extrema lucidez, a dor de pensar (ceifeira)

Solidão interior, angústia existencial, melancolia

Inquietação perante o enigma indecifrável do mundo

Nega o que as suas percepções lhe transmitem - recusa o mundo sensível, privilegiando o mundo inteligível

Fragmentação do eu, perda de identidade – sou muitos e não sou ninguém à interseccionismo entre o material e o sonho; a realidade e a idealidade; realidades psíquicas e físicas; interiores e exteriores; sonhos e paisagens reais; espiritual e material; tempos e espaços; horizontalidade e verticalidade.


O tempo e a degradação: o regresso à infância

Desencanto e angústia acompanham o sentido da brevidade da vida e da passagem dos dias

Busca múltiplas emoções e abraça sonhos impossíveis, mas acaba “sem alegria nem aspirações”, inquieto, só e ansioso.

O passado pesa “como a realidade de nada” e o futuro “como a possibilidade de tudo”. O tempo é para ele um factor de desagregação na medida em que tudo é breve e efémero.

Procura superar a angústia existencial através da evocação da infância e de saudade desse tempo feliz - nostalgia do bem perdido, do mundo fantástico da infância.


Poemas:
- “Meu coração é um pórtico partido” - fragmentação do “eu”



- “Hora Absurda” - fragmentação do “eu”

- interseccionismo



- “Chuva Oblíqua” - fragmentação do “eu”: o sujeito poético revela-se duplo, na busca de sensações que lhe permitem antever a felicidade ansiada, mas inacessível.

- interseccionismo impressionista: recria vivências que se interseccionam com outras que, por sua vez, dão origem a novas combinações de realidade/idealidade.

- “Autopsicografia” - dialéctica entre o eu do escritor e o eu poético, personalidade fictícia e criadora.

- criação de 1 personalidade livre nos seus sentidos e emoções <> sinceridade de sentimentos

- o poeta codifica o poema q o receptor descodifica à sua maneira, sem necessidade de encontrar a pessoa real do escritor

- o acto poético apenas comunica 1 dor fingida, pois a dor real continua no sujeito que tenta 1 representação.

- os leitores tendem a considerar uma dor que não é sua, mas que apreendem de acordo com a sua experiência de dor.

- A dor surge em 3 níveis: a dor real, a dor fingida e a “dor lida”



O fingimento poético
A poesia de Fernando Pessoa Ortónimo aborda temas como o cepticismo e o idealismo, a dor de pensar, a obsessão da análise da lucidez, o eu fragmentário, a melancolia, o tédio, a angústia existencial , a inquietação perante o enigma indecifrável do mundo, a nostalgia do mundo maravilhoso da infância.

O Fingimento poético é inerente a toda a composição poética do Ortónimo e surge como uma nova concepção de arte.

A poesia de Pessoa é fruto de uma despersonalização, os poemas “Autopsicobiografia” e “ Isto” pretendem transmitir uma fragilidade estrutural ,todavia, escondem uma densidade de conceitos.

O Ortónimo conclui que o poeta é um fingidor : “ finge tão completamente / que chega a pensar se é dor/ a dor que deveras sente/”, bem como um racionalizador de sentimentos.

A expressão dos sentimentos e sensações intelectualizadas são fruto de uma construção mental, a imaginação impera nesta fase de fingimento poético. A composição poética resulta de um jogo lúdico entre palavras que tentam fugir ao sentimentalismo e racionalização. “ e assim nas calhas de roda/ gira a entreter a razão / esse comboio de corda/ que é o coração”.

O pensamento e a sensibilidade são conceitos fundamentais na ortonímia, o poeta brinca intelectualmente com as emoções, levando-as ao nível da arte poética.

O poema resulta ,então ,de algo intelectualizado e pensado .

O fingimento está ,pois, em toda arte de Pessoa. O Saudosismo que se encontra na obra de Pessoa não é mais do que “vivências de estados imaginários” : “ Eu simplesmente sinto/ com a imaginação/ não uso o coração”.


Fernando Pessoa Ortónimo e a Heteronímia

Ricardo Reis
- epicurismo: carpe diem e disciplina estóica
- indiferença céptica; ataraxia
- semipaganismo; classicismo
- vive o drama da fugacidade da vida e da fatalidade da morte
Alberto Caeiro
- paganista existencial
- poeta da Natureza e da simplicidade
- interpreta o mundo a partir dos sentidos
- interessa-lhe a realidade imediata e o real objectivo que as sensações lhe oferecem
- nega a utilidade do pensamento; é antimetafísico
Dissimulação 
Fragmentação
FERNANDO
PESSOA
Despersonalização
Fingimento
Álvaro de Campos
- decadentismo: o tédio, o cansaço e a necessidade de novas sensações
- futurismo e sensacionismo: exaltação da força, da violência, do excesso; apologia da civilização indústrial; intensidade e velocidade ( a euforia desmedida)
- intimismo: a depressão, o cansaço e a melancolia perante a incapacidade das realizações; as saudades da infância
Pessoa Ortónimo
- tensão
   sinceridade/fingimento
   consciência/inconsciência
   sentir/pensar
- intelectualização dos sentimentos
- interseccionismo entre o material e o sonho, a realidade e a idealidade
- uma explicação através do ocultismo

terça-feira, 6 de maio de 2014

O Modernismo

Obras de Pablo Picasso

Chama-se genericamente modernismo (ou movimento modernista) o conjunto de movimentos culturais, escolas e estilos que permearam as artes e o design da primeira metade do século XX. Apesar de ser possível encontrar pontos de convergência entre os vários movimentos, eles em geral se diferenciam e até mesmo se antagonizam.

Encaixam-se nesta classificação a literatura, a arquitectura, design, pintura, escultura, teatro e a música modernas.

O movimento modernista baseou-se na ideia de que as formas "tradicionais" das artes plásticas, literatura, design, organização social e da vida quotidiana tornaram-se ultrapassadas, e que se fazia fundamental deixá-las de lado e criar no lugar uma nova cultura. Esta constatação apoiou a ideia de reexaminar cada aspecto da existência, do comércio à filosofia, com o objectivo de achar o que seriam as "marcas antigas" e substituí-las por novas formas, e possivelmente melhores, de se chegar ao "progresso". Em essência, o movimento moderno argumentava que as novas realidades do século XX eram permanentes e eminentes, e que as pessoas deveriam se adaptar a suas visões de mundo a fim de aceitar que o que era novo era também bom e belo.

A palavra moderno também é utilizada em contraponto ao que é ultrapassado. Neste sentido, ela é sinónimo de contemporâneo, embora, do ponto de vista histórico-cultural, moderno e contemporâneo abranjam contextos bastante diversos.


Obra Modernista de Pablo Picasso

Fernando Pessoa - Bibliografia e Heterónimos

Heterónimos


Álvaro de Campos

Entre todos os heterónimos, Campos foi o único a manifestar fases poéticas diferentes ao longo da sua obra. Era um engenheiro de educação inglesa e origem portuguesa, mas sempre com a sensação de ser um estrangeiro em qualquer parte do mundo.






Ricardo Reis

O heterónimo Ricardo Reis é descrito como um médico que se definia como latinista emonárquico. De certa maneira, simboliza a herança clássica na literatura ocidental, expressa na simetria, na harmonia e num certo bucolismo, com elementos epicuristas e estóicos. O fim inexorável de todos os seres vivos é uma constante na sua obra, clássica, depurada e disciplinada. Faz uso da mitologia não-cristã.





Alberto Caeiro

Por sua vez, Caeiro, nascido em Lisboa, teria vivido quase toda a vida como camponês, quase sem estudos formais. Teve apenas a instrução primária, mas é considerado o mestre entre os heterónimos (pelo ortónimo). Depois da morte do pai e da mãe, permaneceu em casa com uma tia-avó, vivendo de modestos rendimentos e morreu de tuberculose. Também é conhecido como o poeta-filósofo, mas rejeitava este título e pregava uma "não-filosofia". Acreditava que os seres simplesmente são, e nada mais: irritava-se com a metafísica e qualquer tipo de simbologia para a vida.





Bernardo Soares

Bernardo Soares é, dentro da ficção de seu próprio Livro do Desassossego, um simples ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa. Conheceu Fernando Pessoa numa pequena casa de pasto frequentada por ambos. Foi aí que Bernardo deu a ler a Fernando seu livro, que, mesmo escrito em forma de fragmentos, é considerado uma das obras fundadoras da ficção portuguesa no século XX.







Livros e colectâneas de poesia publicadas em vida:

"35 sonnets", 1918.
"Antinous", 1918.
"English Poems I II", 1921.
"English Poems III", 1921.
"Mensagem", 1934.
Obras publicadas após a sua morte:
"Obra poética Obras Completas de Fernando Pessoa"
"Poesias de Fernando Pessoa",1ªed. 1942
"Poesias de Álvaro de Campos", 1ªed. 1944
"Poemas de Alberto Caeiro", 1ªed. 1946
"Odes de Ricardo Reis", 1ªed.1946
"Poemas Dramáticos", 1ªed 1952
"Poesias Inéditas de Fernando Pessoa (1930 1935)", 1ªed. 1955
"Poesias inéditas de Fernando Pessoa (1919 1935)", 1ªed. 1956
"Quadras ao Gosto Popular de Fernando Pessoa", 1ªed. 1965
"Novas Poesias Inéditas", 1ªed.1973
"Poemas Ingleses publicados por Fernando Pessoa", 1ªed. 1974
"Obra Poética de Fernando Pessoa", 1986
"O Guardador de Rebanhos de Alberto Caeiro", 1986
"Primeiro Fausto", São Paulo, 1986.
Obra em Prosa e Epsitolografia:
"A Nova Poesia Portuguesa", 1944
"Cartas de Amor de Fernando Pessoa", 1ªed., 1978
"Cartas de Fernando Pessoa a Armando Cortes Rodrigue"s, 3ªed., 1985
"Cartas de Fernando Pessoa a João Gaspar Simões", 2ªed., 1982
"Da República", Lisboa, 1ªed. 1979
"Fernando Pessoa O Comércio e a Publicidade", 1986.
"Livro do desassossego por Bernardo Soares", 1982, 2vol.
"Obra em Prosa", Rio de Janeiro, 1974.
"Obras em Prosa de Fernando Pessoa", 1987.
"Escritos Íntimos, Cartas e Páginas Auto Biográficas"
"Textos de Intervenção Social e Cultural A ficção dos Heterónimos"
"Ficção e Teatro O Banqueiro Anarquista, Novelas Policiárias, O Marinheiro e Outros"
"A Procura da Verdade Oculta Textos Filosóficos e Esotéricos"
"Portugal, Sebastianismo e Quinto Império"
"Páginas de Pensamento Político I" (1910 1919)
"Páginas de Pensamento Político II" (1925 1935)
"Páginas de Doutrina Estética", 1946
"Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias"
"Páginas Íntimas e de Auto Interpretação", 1ªed.1966
"Sobre Portugal",1ªed.1979
"Textos Filosófico"s, 1ªed.1968, 2vol
"Textos para Dirigentes de Empresas", 1969
"Textos de Crítica e de Intervenção", 1ªed. 1980
"Ultimatum e Páginas de Sociologia Política", 1ªed.1980.

Fernando Pessoa - Biografia

Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa, 13 de Junho de 1888 — Lisboa, 30 de Novembro de 1935), mais conhecido como Fernando Pessoa, foi um poeta, filósofo e escritor português.


Fernando Pessoa é o mais universal poeta português. Por ter sido educado na África do Sul, numa escola católica irlandesa, chegou a ter maior familiaridade com o idioma inglês do que com o português ao escrever seus primeiros poemas nesse idioma. O crítico literário Harold Bloom considerou Pessoa como "Whitmanrenascido", e o incluiu no seu cânone entre os 26 melhores escritores da civilização ocidental, não apenas da literatura portuguesa mas também da inglesa. 


Das quatro obras que publicou em vida, três são na língua inglesa. Fernando Pessoa traduziu várias obras em inglês (e.g., de Shakespeare e Edgar Poe) para o português, e obras portuguesas (nomeadamente de António Botto e Almada Negreiros) para o inglês. 


Enquanto poeta, escreveu sob múltiplas personalidades – heterónimos, como Ricardo Reis, Álvaro de Campose Alberto Caeiro –, sendo estes últimos objecto da maior parte dos estudos sobre a sua vida e obra. Robert Hass, poeta americano, diz: "outros modernistas como Yeats, Pound, Elliot inventaram máscaras pelas quais falavam ocasionalmente... Pessoa inventava poetas inteiros."

Caricatura de Fernando Pessoa

sexta-feira, 28 de março de 2014

Os Maias - Episódio das Corridas de Cavalos

Objetivos

Novo contacto de Carlos com a sociedade de Lisboa, incluindo o próprio rei.
Visão panorâmica da sociedade lisboeta (masculina e feminina) sob o olhar crítico de Carlos.
Tentativa frustrada de igualar Lisboa às capitais europeias, sobretudo Paris.
Criticar o cosmopolitismo postiço da sociedade;
Possibilidade de Carlos encontrar novamente a mulher que viu à entrada do Hotel Central.




Caracterização do ambiente geral


Largo de Belém


tosca guarita de madeira, armada de véspera -> improvisação;
monotonia;
tristeza e silêncio;
pasmaceira (o trabalhador com o filho ao colo e a mulher);
desinteresse (o garoto apregoando o programa das corridas que ninguém compra, a mulher da água fresca sentando-se na sombra a catar o filho);
o trintanário que fora comprar o bilhete de Craft demora-se em discussão com o bilheteiro, que não tem troco de uma libra; Craft apeia-se para ir resolver o problema e é insultado;
as pessoas em trajes domingueiros;
traços realistas: a descrição do calor, do colorido, dos sons e dos costumes de uma cidade estagnada.

falta de motivação e entusiasmo pelo fenómeno desportivo em causa;
provincianismo.
Entrada do hipódromo


«... abertura escalavrada num muro de quintarola...»;
primeira desordem / discussão:

motivo: um sujeito queria entrar sem pagar a carruagem, porque o sr. Savedra lho tinha prometido;
o engarrafamento de dog-carts e caleches de praça;
os insultos dos ocupantes;
a intervenção deselegante da polícia;
o grande rebuliço e a poeirada;



. falta de organização
. pelintrice
. falta de educação
. provincianismo



Descrição do hipódromo


situado numa colina, sob a aragem vinda do rio, provoca uma sensação de frescura e paz;
a gente apinhada;
as precárias condições das tribunas e do espaço envolvente:

a tribuna real forrada de uma baetão vermelho de mesa de repartição;
as tribunas públicas com o feitio de traves mal pregadas - o hipódromo parecia um palanque de arraial - mal pintadas e com fendas;
o recinto da tribuna fechado por um tapume de madeira;

as pessoas não sabem ocupar os seus lugares: «... havia uma fila de senhoras quase todas de escuro encostadas ao rebordo, outras espalhadas pelos primeiros degraus; e o resto das bancadas permanecia deserto e desconsolado...»;

. a improvisação
. o remendo apressado
. a iniciativa sem base sólida
. os retoques sem gosto

Durante as corridas:


fuma-se e fala-se baixo -> falta de à-vontade;
as pessoas pasmam -> pasmaceira;
dois brasileiros queixam-se do preço dos bilhetes e consideram as corridas uma «sensaboria de rachar»;
a chegada do rei é saudada com o «Hino da Carta».

Descrição do bufete:


instalado debaixo da tribuna;
pobreza: «... o tabuado nu, sem sobrado, sem um ornato, sem uma flor.» - assemelha-se a uma taberna;
falta de higiene e aspeto nojento: «... dois criados, estonteados e sujos, achatavam à pressa as fatias de sanduíches com as mãos húmidas da espuma da cerveja.»;
a animação fictícia, com hurras a Clifford e a Carlos.

As corridas

1.ª corrida: a do 1.º Prémio dos «Produtos»:

  • os dois cavalos «passavam num galope sereno»;
  • os assistentes não sabem quem ganhou e, mal a corrida termina, regressam ao silêncio, à lassidão e ao desapontamento;
  • o desinteresse pela corrida confirma-se na atitude dos que se encontram de costas voltadas para a pista, fumando e contemplando as mulheres;
  • o provincianismo bacoco dos homens que ficam parados e embasbacados a admirar Clifford;
  • a ausência de apostas;
  • a falta de autoridade e de respeito para com o rei, cuja proximidade não impede a desordem;
A corrida termina com uma cena de insultos e pancadaria por causa de uma burla (segunda desordem):


  • quebra do verniz de civilização e requinte social que a sociedade pretendia ostentar,deixando emergir o provincianismo;
  • grande incultura e grosseria;
  • inadequação do ambiente cosmopolita das corridas à vivência social portuguesa;


«Isto é um país que só suporta hortas e arraiais...»;
«Corridas, como muitas outras coisas civilizadas lá de fora, necessitam primeiro gente educada.»;
«Do que gostamos é de vinhaça, e viola, e bordoada...».

SER =/= PARECER
(provinciano) (civilizado)
«Aquela corrida insípida, sem cavalos, sem jóqueis, com meia dúzia
de pessoas a bocejar em roda...»
«... tudo aquilo era uma intrujice...»
porque era «... um divertimento que não estava nos hábitos do país.»

2.ª corrida: a do Grande Prémio Nacional:

Alguns sujeitos examinam o «Rabino», «com o olho sério, afetando entender», entre os quais se einclui Carlos, que também admira o cavalo, mas nota-lhe o peito estreito;
finalmente, aposta-se:

  • estão quatro cavalos inscritos na corrida;
  • o favorito é o «Rabino» e todos querem tirar o bilhete deste;
  • Carlos, por «divertimento» («... gostara da cabeça ligeira do potro, do seu peito largo e fundo...») e «... para animar mais aquele recanto da tribuna, ver brilhar gulosamente os olhos interesseiros das mulheres.», decide apostar tudo em «Vladimiro», apesar do potro ir em último lugar na corrida;
  • todos os outros decidem apostar contra Carlos, procurando «aproveitar-se daquela fantasia de homem rico...»;
  • contra todas as expectativas, «Vladimiro» vence «Minhoto» por duas cabeças, o que permite a Carlos ganhar a poule e provoca a irritação dos restantes, que perderam;


Finalizada a corrida, o torpor volta a instalar-se enquanto as pessoas se dispersam:

«Mas uma indiferença, um tédio lento, ia pesando outra vez, desconsoladoramente...»;
os rapazes bocejavam, com um ar exausto;
a música desanimada;
«As senhoras tinham retomado a imobilidade melancólica...»;
«E sujeitos, de mãos atrás das costas, pasmavam...».

Conclusões - Intenção crítica de Eça:


O oportunismo e a cupidez dos que se pretendem aproveitar de Carlos apostar no cavalo menos favorito;
o desejo português de ser o primeiro em tudo;
a tendência de as pessoas se aperceberem do que é óbvio e de secolarem ao vencedor, evidenciada pelo facto de mesmo os que não haviam apostado no «Minhoto» o aplaudirem, pois esperavam que fosse ele o vencedor;
o patriotismo provinciano que vê em jogo, numa corrida de cavalos, o prestígio do nosso país: como «Minhoto» era um cavalo português, a sua vitória seria um ato patriótico;
o cansaço rápido que se apodera de nós e que permite que outros venham, de seguida, colher o fruto do nosso esforço desordenado: o jóquei inglês deixou primeiro que «Minhoto» se cansasse, para depois o vencer facilmente;
o não saber perder, patente na reação das personagens quando o cavalo em que apostaram perdeu:


«... o adido italiano (...) empalideceu...»;
«... atiravam-lhe com um ar amuado as apostas perdidas...»;
«... a vasta ministra da Baviera, furiosa...»;
«... o secretário lento e silencioso...».
. 3.ª corrida: a do Prémio de El-Rei → um cavalo solitário atravessa a meta, sem se apressar, num galope pacato, e só muito tempo depois chega um outro cavalo, uma pileca branca arquejando, num esforço doloroso, numa altura em que o jóquei do cavalo vencedor se encontrava já a conversar com os amigos, encostado à corda da pista.

4.ª corrida: a do Prémio da Consolação:
todo o interesse fictício desaparecera e regressa a indiferença geral;
junto à meta, um dos cavaleiros caíra;
já à saída, o Vargas, bêbedo, esmurrara um criado de bufete → «... tudo é bom quando acaba bem.».
2.7. As personagens

2.7.1. Os jóqueis:
. 1.ª corrida:
-» o Pinheiro - montava o «Escocês»
-» um sujeito - montava o «Júpiter»
. 2.ª corrida:
-» um jóquei - montava o «Rabino»
-» um jóquei espanhol - montava o «Minhoto»
-» um jóquei inglês - montava o «Vladimiro»
. 3.ª corrida:
-» um gentleman - montava um cavalo
-» um jóquei roxo e preto - montava uma pileca
. 4.ª corrida:
-» jóqueis sem identificação

2.7.2. Os homens


O Visconde de Darque:


Dono do «Rabino», o favorito, considera a sua participação um sacrifício;
«... não podia apresentar um cavalo decente, com as suas cores, senão daí a quatro anos»;
não apurava cavalos para «aquela melancolia de Belém», para aquele «horror»;
quando há qualquer problema ou dúvida, requisitam-no de imediato: «Eu sou o dicionário...».

El-Rei: sorridente.
Alencar:

elegantemente vestido;
sempre cortês e bem penteado nesse dia, beija fidalgamente a mão de D. Maria da Cunha;
encontra nas corridas «... um certo ar de elegância, um perfume de corte...».

O barão de Craben, pequenino, aos pulinhos.
Craft, que apresenta Clifford a Carlos.
Sequeira:

«... entalado numa sobrecasaca curta que o fazia mais atarracado, de chapéu branco...»;
considera uma «sensaboria» «... aquela corrida insípida, sem cavalos, sem jóqueis, com meia dúzia de pessoas a bocejar em toda...», «... um divertimento que não estava nos hábitos do país...».

Clifford: «... parecia achar tudo aquilo ignóbil...», acabando por retirar a «Mist».
Steinbroken: aposta sem conhecer os cavalos.
Conde de Gouvarinho e os seus dislates e ignorância: «... todos os requintes da civilização se aclimatavam bem em Portugal.»; «O nosso solo (...) é um solo abençoado!».
Teles da Gama, encarregado de organizar as apostas.
Eusebiozinho, acompanhado pela Concha e pela Carmen.
Dâmaso:

o seu «chique a valer»;
a gabarolice, a falta de educação e de respeito para com as mulheres, traduzida numa linguagem rude: «... tinha estado (...) com uma gaja divina...»;
a queixa da troça que o seu véu provocara.
2.7.3. As mulheres


Em geral

as que vêm no High Life dos jornais
as dos camarotes de S. Carlos
as das terças-feiras dos Gouvarinhos




não sabem ocupar os seus lugares
vestem-se ridiculamente de escuro («vestidos sérios de missa»)
peles murchas, gastas e moles

«... canteirinho de camélias meladas...»



Em particular

As duas irmãs do Taveira (diminutivos irónicos):

  • magrinhas;
  • loirinhas;
  • corretamente vestidas.


A viscondessa de Alvim: nédia e branca.

Joaninha Vilar

cada vez mais cheia e com um quebranto cada vez mais doce no olhar;
lânguida, parece oferecer o seu «apetitoso peito de rola!».


As Pedrosos, banqueiras, interessando-se pelas corridas.
Condessa de Soutal: desarranjada, com lama nas saias.
D. Maria da Cunha:

desenvolta, ousada, foi a única com atrevimento suficiente para se vir sentar junto dos homens, porque «... não aturava a seca de estar lá em cima perfilada, à espera da passagem do Senhor dos Passos.»;
bela, apesar da idade;
muito à vontade, era a única a divertir-se;
considera ridículo o «Hino da Carta», porque dá às corridas um ar de arraial;
casamenteira, apresenta Alencar à sua amiga Concha e, depois, procura aproximar ainda mais Carlos e a condessa.


A menina Sá Videira

petulante e pretensiosa;
filha de um rico negociante de sapatos de ourelo;
abonecada;
«... com o arzinho petulante e enojado...»;
«... falando alto inglês...».


A ministra da Baviera, a baronesa Craben

«... enorme, empavoada...»;
muito gorda: «... com um gluglu grosso de peru...»; «... feitio de barrica, deixando sair o sebo por todas as costuras do vestido (...)»; «... a insolente baleia!»;
altiva, insolente e sobranceira.


A Condessa de Gouvarinho

elegantemente vestida;
sensual e audaz;
é admirada por vários homens;
no dia seguinte, partirá para o Porto para comemorar o aniversário do pai e quer que Carlos a acompanhe, congeminando um plano para levar a cabo os seus intentos.
Em suma, neste episódio, o narrador critica e caricatura uma sociedade que aplaude a organização das corridas na sua ânsia de imitar o que de melhor há «lá fora», sobretudo em Paris, modelo de civilização. Porém, como em Portugal não havia a tradição nem o hábito de realização de tais eventos, em vez de um grande acontecimento mundano, assistimos a um grande fiasco, a mais uma manifestação do gosto pela aparência e pelo postiço, em detrimento daquilo que seja autêntica e genuinamente português.
Os alvos visados por Eça de Queirós são, basicamente, dois:


A Monarquia, pela falta de autoridade que o Rei demonstra, pois a sua presença não consegue impedir as várias desordens;
a alta sociedade lisboeta:

a incivilização;
o fracasso total dos objetivos da corrida;
a falta de decoro e de educação;
a incultura;
a grosseria;
o desinteresse;
o caráter mimético;
a improvisação;
o atraso generalizado;
o provincianismo: a organização das corridas, que pretendia emprestar-lhes um toque de civilização, acaba por pôr a nu o quanto há de postiço e de reles no decoro solene da assistência:

«... desmanchando a linha postiça de civilização e a atitude forçada de decoro...»;
a «... massa tumultuosa (...) empurrando-se contra as escadas da tribuna real, onde um ajudante de el-rei, reluzente de agulhetas e em cabelo, olhava tranquilamente...»;
os gritos de «Fora! Fora!», «ordem» e «morra»;
a reação agressiva do Vargas;
a fuga espavorida das «... senhoras com as saias apanhadas...».

Os Maias - Episodio Hotel Central


Resumo do Episódio


Carlos e Craft encontram-se no peristilo do Hotel Central, antes do jantar, quando vêm chegar uma deslumbrante mulher. Subiram até um gabinete, onde Carlos foi apresentado a Dâmaso, este conhecia aquela mulher, pertencia à família Castro Gomes. Dâmaso falava sobre a sua preferência por Paris, “aquilo é que é terra”, até lá tinha um tio, o tio Guimarães, quando apareceu “o nosso poeta”, Tomás de Alencar. Por intermédio de Ega foi apresentado a Carlos.

Pouco tempo depois, porta abriu-se e Cohen desculpando-se pelo atraso foi apresentado, por Ega, a Carlos.

Deu-se início ao jantar, com ostras e vinho, falava-se do crime da Mouraria, que “parecia a Carlos merecer um estudo, um romance”. Isto levou a que se falasse do Realismo. Alencar suplicou que se não discutisse “literatura «latrinária»”, [...] que se não mencionasse o «excremento»”.

“Pobre Alencar!” Homem que tivera em tempos uma vida carregada de adultérios, tornava-se agora num defensor da Moral, no entanto a sociedade não o ouvia, via-se apenas confrontado com ideias absurdas defendidas pelos Naturalistas/Realistas.

Carlos posiciona-se na conversa contra o realismo. Ega reage às críticas e defende arduamente os princípios do Realismo. Cohen mantinha-se superior a esta conversa, vendo isto, Ega muda de assunto. “Então, Cohen, diga-nos você, conte-nos cá... O empréstimo faz-se ou não se faz?” ao que Cohen respondeu ser imprescindível, pois o empréstimo constituía uma fonte de receita, aliás a “única ocupação mesmo dos ministérios era esta – «cobrar o imposto» e «fazer o empréstimo».

Do ponto de vista de Carlos, assim o “país ia alegremente e lindamente para a bancarrota”. Cohen concordava, mas isso era inevitável. Por oposição, Ega defende que o que convinha a Portugal era uma revolução, para eliminar “a monarquia que lhe representa o «calote», e com ela o crasso pessoal do constitucionalismo.”

Ega imbatível, aposta numa invasão espanhola, deste modo recomeçava-se “uma história nova, um outro Portugal, um Portugal sério e inteligente, forte e decente, estudado, pensado e fazendo civilizações como outrora...”. Os restantes já planeavam a resistência, porém Alencar era um “patriota è antiga”, totalmente contra esta ideia.

Esquecida a bancarrota, a invasão e a pátria, o jantar estava prestes a terminar, quando Alencar e Ega entraram em conflituo a propósito da poesia moderna de Simão Craveiro. Mas Cohen chama a atenção de Ega e ambos fazem as pazes e brindam com um copo de champanhe, esquecendo o que aconteceu.

Terminou assim, com bom censo, o episódio do Jantar no Hotel Central!




Integração do episódio na estrutura da obra


O jantar no Hotel Central, integrado no capítulo VI, insere-se na acção principal e deste modo identifica-se como um episódio da crónica de costumes.

Marcado, pelo aparecimento de uma admirável mulher (Maria Eduarda) que despertou a Carlos grande interesse. Foi para este o primeiro jantar de apresentação à sociedade lisboeta. Deste modo, deram entrada as principais figuras e os principais problemas da vida política, social e cultural da alta sociedade lisboeta. 





Fonte: http://www.notapositiva.com/trab_estudantes/trab_estudantes/portugues/portugues_trabalhos/osmaiasjantarhotelcentral2.htm

sexta-feira, 21 de março de 2014

Os Maias - Ação Secundária

Na intriga secundária temos:
A história de Afonso da Maia - época de reacção do Liberalismo ao Absolutismo;
A história de Pedro da Maia e Maria Monforte - época de instauração do Liberalismo e consequentes contradições internas;
A história da infância e juventude de Carlos da Maia - época de decadência das experiências Liberais.




























http://www.notapositiva.com/pt/trbestbs/portugues/11_os_maias_passeio_final_d.htm

Os Maias - Os Elementos Simbólicos

Os Maias estão incrivelmente repletos de símbolos.

Afonso da Maia é uma figura simbólica - o seu nome é simbólico, tal como o de Carlos - o nome do último Stuart, escolhido pela mãe. Carlos irá ser o último Maia - note-se a ironia em forma de presságio.

No Ramalhete, esta designação e o emblema (o ramo de girassóis) mostram a importância "da terra e da província" no passado da família Maia. A "gravidade clerical do edifício" demonstra a influência que o clero teve no passado da família e em Portugal.

Por oposição, as obras de restauro, levadas a cabo por Carlos, introduziram o luxo e a decoração cosmopolita, simbolizam uma nova oportunidade, uma reforma da casa (ou do país) para uma nova etapa - é o reflexo do ideal reformista da Geração de Carlos. Carlos é um símbolo da Geração de 70, tal como o é Ega. Tal como o país, também eles caíram no "vencidismo".

No último capítulo, a imagem deixada pelo Ramalhete, abandonado e tristonho, cheio de recordações de um passado de tragédia e frustrações, está muito relacionado com o modo como Eça via o país, em plena crise do regime.

O quintal do Ramalhete, também sofre uma evolução. O fio de água da cascata é símbolo da eterna melancolia do tempo que passa, dos sentimentos que leva e traz. A estátua de Vénus que, enegrece com a fuga de Maria Monforte, no final a sua presença obscura na quintal é uma vaga premonição da tragédia. Ela marca o início e o fim da acção principal.

No quarto de Maria Eduarda, na Toca, o quadro com a cabeça degolada é um símbolo e presságio de desgraça. Os seus aposentos simbolizam o carácter trágico, a profanação das leis humanas e cristãs.

Também o armário do salão nobre da Toca, tem uma simbologia trágica. Os guerreiros simbolizam a heroicidade, os evangelistas, a religião e os trofeus agrícolas o trabalho: qualidades que existiram um dia na família (e no Portugal da epopeia). Os dois faunos simbolizam os dois amantes numa atitude hedonista e desprezadora de tudo e todos. No final um partiu o seu pé de cabra e o outro a flauta bucólica, pormenor que parece simbolizar o desafio sacrílego dos faunos a tudo quanto era excelso e sublimado na tradição dos antepassados.

No final, a estátua de Camões é o símbolo da nostalgia do passado mais recuado.

Não é difícil lermos o percurso da família Maia, nas alterações sofridas pelo Ramalhete. No início o Ramalhete não tem vida, em seguida habitado, torna-se símbolo da esperança e da vida, é como que um renascimento; finalmente, a tragédia abate-se sobre a família e eis a cascata chorando, deitando as últimas gotas de água, a estátua coberta de ferrugem; tudo tem um carácter funéreo. O cedro e o cipreste, são árvores que pela sua longevidade, significam a vida e a morte, foram testemunhas das várias gerações da família.

A morte instala-se nesta família. No Ramalhete todo o mobiliário degradado e disposto em confusão, todos os aposentos melancólicos e frios, tudo deixa transparecer a realidade de destruição e morte. E se os Maias representam Portugal, a morte instalou-se no país.

A Toca é o nome dado à habitação de certos animais, o que, desde logo, parece simbolizar o carácter animalesco do relacionamento de Carlos e Maria Eduarda. Na primeira vez que lá vão, Carlos introduz a chave no portão com todo o prazer, o que sugere o poder e o prazer das relações incestuosas; da Segunda vez ambos a experimentam - a chave torna-se, portanto, o símbolo da mútua aceitação e entrega.

Os aposentos de Maria Eduarda simbolizam o carácter trágico, a profanação das leis humanas e cristãs.

Os Maias estão também, povoados de símbolos cromáticos: a cor vermelha tem um carácter duplo, Maria Monforte e Maria Eduarda são portadoras de um vermelho feminino, despertam a sensibilidade à sua volta; espalham a morte. O vermelho é, portanto, o símbolo da paixão excessiva e destruidora.

O vermelho da vila Balzac é muito intenso, indicando a dimensão essencialmente carnal e efémera dos encontros de amor de Ega e Raquel Cohen

O tom dourado está também presente, indicando a paixão ardente; anunciando a velhice (o Outono), a proximidade da morte. Morte prefigurada pela cor negra, símbolo de uma paixão possessiva e destruidora.

Mãe e filha conjugam em si estas três cores: elas são, portanto, vida e morte, o divino e o humano, a aparência e a realidade, a força que se torna fraqueza.

Constatamos que a simbologia d'Os Maias possui uma função claramente pressagiosa da tragédia.



Fonte: http://www.citi.pt/cultura/literatura/romance/eca_queiroz/maias_simbolismo.html

Os Maias - Ação Principal

Na intriga principal são retratados os amores incestuosos de Carlos e Maria Eduarda que terminam com a desagregação da família.

Carlos é o protagonista da intriga principal.

Teve uma educação à inglesa e tirou o curso de medicina em Coimbra.

A educação de Maria Eduarda foi completamente diferente, donde se conclui que a sua paixão não foi condicionada pela educação, nem pela hereditariedade, nem pelo meio.

A sua ligação amorosa foi comandada à distância por uma entidade que se denomina destino.

Os Maias - Geração 70

Assim se designa o grupo de jovens intelectuais portugueses que, primeiro em Coimbra e depois em Lisboa,manifestaram um descontentamento com o estado da cultura e das instituições nacionais. O grupo fez-se notar a partir de 1865, tendo Antero de Quental como figura de proa e de maior profundidade reflexiva, e integrando ainda literatos como Ramalho Ortigão, Guerra Junqueiro, Teófilo Braga, Eça de Queirós, Oliveira Martins, Jaime Batalha Reis e Guilherme de Azevedo. Juntos ou, como sucedeu mais tarde, trilhandocaminhos de certa forma divergentes, estes homens marcaram a cultura portuguesa até ao virar do século(se não mesmo até à República), na literatura e na crítica literária, na historiografia, no ensaísmo e napolítica.Os homens da Geração de 70 tiveram possibilidade e, sobretudo, apetência de contacto com acultura mais avançada da Europa como não se via em Portugal desde o tempo da formação de um Garrett ede um Herculano. Puderam, pois, aperceber-se da diferença que havia entre o estado das ciências, dasartes, da filosofia e das próprias formas de organização social no país e em nações como a Inglaterra, aFrança ou a Alemanha. Em consequência, esta juventude cosmopolita nas leituras, liberal e progressistanão se revia nos formalismos estéticos que grassavam nem naquilo que consideravam ser a estagnaçãosocial, institucional, económica e cultural a que assistiam.O seu inconformismo havia de se manifestar emdiversas ocasiões, com repercussões públicas dignas de registo. Em 1865 é despoletada a chamadaQuestão Coimbrã, que opôs o grupo, a pretexto de uma obra literária de mérito discutível, aoultrarromantismo instalado que António Feliciano de Castilho personificava. Travou-se uma acesa polémica,à qual subjaziam grandes diferenças ao nível das referências estéticas mas também ideológicas. O gruporeunir-se-ia depois na capital, formando o Cenáculo, e em 1871 organizou as Conferências Democráticas doCasino Lisbonense, com as quais chamou definitivamente a atenção da sociedade.Nos anos seguintes,embora a atitude de crítica e de intervenção cultural e política se mantivesse, os membros do grupo foram definindo caminhos pessoais independentes, ora dedicando-se mais a umas atividades, ora a outras. 


Antero suicidou-se em 1891, e dir-se-ia que esse gesto simboliza o destino destes homens a caminho do final do século, em desilusão progressiva com o país e o sentido das suas próprias vidas.


Os Maias - Caracterição das Personagens

As personagens intervenientes na acção de "Os Maias" são cerca de 60. É, portanto, impossível e desnecessário fazer a análise de todas elas. Cingimo-nos às personagens principais e algumas personagens planas ou tipo que consideramos importantes para o desenrolar da acção.

Personagens Centrais:



Personagens Planas e/ou Tipo:


Eça utiliza dois tipos de caracterização das suas personagens: a caracterização directa e a caracterização indirecta. A primeira é usada de forma privilegiada para todas as personagens à excepção de Carlos. Destaca-se a heterocaracterização naturalista de Pedro da Maia e a autocaracterização mista de Maria Eduarda. A caracterização indirecta é utilizada para a personagem Carlos da Maia, do qual apenas se apresentam, inicialmente, pequenos traços físicos, deixando que as suas acções demonstrem a sua personalidade.





Fonte: http://www.citi.pt/cultura/literatura/romance/eca_queiroz/maias_personagens.html

Os Maias - Situações Satíricas que critiquem a sociedade atual

Sátira

É uma técnica literária ou artística que ridiculariza um determinado tema (indivíduos, organizações, estados), geralmente como forma de intervenção política ou outra, com o objectivo de provocar ou evitar uma mudança. O adjectivo satírico refere-se ao autor da sátira.


Técnicas satíricas mais utilizadas                                                    



  • Diminuição - Reduz o tamanho ou grandeza de algo de forma a tornar a aparência ridícula ou de forma a fazer sobressair os defeitos criticados. Por exemplo, quando alguém, num discurso político, decide chamar "bando de garotos" aos membros de outro partido, usa a diminuição. A primeira parte de As Viagens de Gulliver, passada na ilha fictícia de Liliput, é também uma sátira diminutiva. 

  • Inflação - Quando se exagera, aumentando, algum aspecto da coisa satirizada. Tal como a diminuição, é uma forma de hipérbole (negativa no primeiro caso, positiva, no segundo). O exagero das dimensões de algo serve também para acentuar os defeitos daquilo que se pretende satirizar. Como exemplo desta técnica, podemos considerar a obra de Alexander Pope, The Rape of the Lock. 

  • Justaposição - Coloca ao mesmo nível coisas de importância desigual, de forma a rebaixar algumas, supostamente "elevadas" ao nível de outras consideradas menos nobres. Por exemplo, quando alguém diz que as suas disciplinas preferidas na escola são Cálculo Diferencial, Física e "micar as gajas" (expressão usada, no calão, em Portugal, e que significa: olhar para as garotas), estará a colocar as disciplinas científicas, supostamente mais elevadas e edificantes, ao mesmo nível de um passatempo que apela a instintos mais básicos.


quarta-feira, 19 de março de 2014

Os Maias - Caricaturas de Rafael Bordálo


Os Maias - Realismo na Literatura, na pintura e na música

Na literatura:
Motivados pelas teorias científicas e filosóficas da época, os escritores realistas desejavam retratar o homem e a sociedade em sua totalidade. Não bastava mostrar a face sonhadora ou idealizada da vida, como fizeram os românticos; desejaram mostrar a face nunca antes revelada: a do cotidiano massacrante, do amor adúltero, da falsidade e do egoísmo humano, da impotência do homem comum diante dos poderosos.

Uma característica do romance realista é o seu poder de crítica, adotando uma objetividade que faltou ao romantismo. Grandes escritores realistas descrevem o que está errado de forma natural, ou por meio de histórias como Machado de Assis. Se um autor desejasse criticar a postura de alguma entidade, não escreveria um soneto para tanto, porém escreveria histórias que envolvessem-na de forma a inserir nessas histórias o que eles julgam ser a entidade e como as pessoas reagem a ela.

Em lugar do egocentrismo romântico, verifica-se um enorme interesse de descrever, analisar e até em criticar a realidade. A visão subjetiva e parcial da realidade é substituída pela visão objetiva, sem distorções. Dessa forma os realistas procuram apontar falhas talvez como modo de estimular a mudança das instituições e dos comportamentos humanos. Em lugar de heróis, surgem pessoas comuns, cheias de problemas e limitações. Na Europa, o realismo teve início com a publicação do romance realista Madame Bovary (1857) de Gustave Flaubert.



Na pintura:
O historiador Seymour Slive cita que quando se discute o realismo em relação aos pintores de paisagem é importante especificar que esses artistas quase nunca pintavam seus quadros em exteriores. A prática de fazer pinturas ao ar livre só se tornou comum no século XIX. Em épocas anteriores as pinturas de paisagem eram quase sempre compostas nos ateliers. Principais pintores realistas:
  • Édouard Manet 
  • Gustave Courbet 
  • Honoré Daumier 
  • Jean-Baptiste Camille Corot 
  • Jean-François Millet 
  • Théodore Rousseau 





terça-feira, 18 de março de 2014

Os Maias - Espaço físico, Narrador, Tempo e Intriga

Espaço Físico:
São variados os espaços geográficos e, estão relacionados com o percurso da personagem principal. Assim os espaços privilegiados são Sta Olávia (infância e educação de Carlos), Coimbra (seus estudos, e primeiras aventuras amorosas) e Lisboa, onde irá desenrolar-se toda a acção após a sua formatura e regresso da sua “longa viagem pela Europa”. Sintra e Olivais são espaços também muito referidos, mas onde não se passa qualquer acção de relevo no romance. Os espaços interiores são descritos exatamente de acordo com as personagens. Os espaços interiores mais destacados são O Ramalhete, o quarto da Toca, a Vila Balzac e o consultório de Carlos.

Narrador:
Tipo de narrador (presença): Heterodiegético
De acordo com as características do Realismo/Naturalismo, pois permite uma análise social muito mais objectiva e eficaz, pelo distanciamento que caracteriza este tipo de narrador.


Marcas linguísticas:
  • Formas verbais na terceira pessoa
  • Pronomes e determinantes na terceira pessoa
  • Discurso indireto livre  


Tempo:
Entende-se por tempo histórico aquele que se desdobra em dias, meses e anos vividos pelas personagens, reflectido até acontecimentos cronológicos históricos do país.
Nos "Os Maias", o tempo histórico é dominado pelo encadeamento de três gerações de uma família, cujo último membro (Carlos), se destaca relativamente aos outros.
A fronteira cronológica situa-se entre 1820 e 1887, aproximadamente.
Assim, o tempo concreto da intriga compreende cerca de 70 anos.


Intriga:
Eça serve-se da história de uma família para narrar as desventuras de uma sociedade. Assim, o romance acompanha dois níveis de acções distintos, um decorrente do título “Os Maias” , tem por personagem central Carlos e se subdivide numa intriga principal e numa intriga secundária, outro decorrente do subtítulo “Episódios da vida romântica” foca a descrição de eventos recreativos da sociedade portuguesa da Regeneração, constituindo a crónica da costumes.

O nível de acção decorrente do título dá-nos a conhecer a história da família Maia ao longo das gerações de Caetano, Afonso, Pedro e Carlos da Maia. A intriga principal é constituída pelo romance entre Carlos e Maria Eduarda; a intriga secundária dos amores de Pedro e Maria Monforte é necessária para construir a intriga central. A acção das intrigas é fechada porque não há possibilidade de continuação: Pedro suicida-se, Maria Monforte já morreu, Maria Eduarda e Carlos suicidam-se psicologicamente perdendo a capacidade de amar, e Afonso morre. A temática do incesto desencadeia toda a intriga. 

A crónica de costumes engloba os ambiente sociais, os figurantes e seus comportamentos, bem como as relações do protagonista Carlos, quer com o ambiente, quer com as personagens, pelo que os episódios são acções ainda que com duração limitada, é uma acção aberta porque cada episódio pode continuar. É fundamentalmente ao nível da intriga principal que surge a crónica de costumes, pelo que ambas se desenvolvem em paralelo.