quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
Frei Luís de Sousa: Valor Simbólico de alguns Elementos
•«Sexta-feira» e a sua carga semântica negativa; dia considerado aziago e fatal para Madalena. Coincidência ou não todos os acontecimentos marcantes da vida de Madalena ocorreram a uma sexta-feira: primeiro casamento, primeiro encontro com Manuel, Batalha de Alcácer- Quibir e desaparecimento de D. João, regresso de D. João.
•Ambiente crepuscular/nocturno, caracteristicamente romântico. Conferir as didascálias iniciais do Acto I e Acto III e a didascália do Acto I, cena 7.
• A preferência pelos ambientes nocturnos, característica romântica, pode simbolizar a morte que se abaterá sobre a família.
•A permanência do número 7: - 7 anos de procura de D. João; - 14 de casamento com Manuel de Sousa Coutinho (7+7); - 21 anos deste o desaparecimento de D. João (7+7+7). O número 7 simboliza a totalidade: os 7 dias da criação do Mundo; os 7 pecados mortais e as virtudes que se lhe opõem...
Fonte: http://auladeliteraturaportuguesa.blogspot.pt/
Frei Luís de Sousa: Características do Romantismo
-Nacionalismo e patriotismo, manifestação do individualismo (Manuel e Maria)
-Confronto entre o indivíduo e a sociedade (Manuel e Madalena)
-Defesa da liberdade e exaltação pessoal (Manuel e Madalena)
-Crença em agouros, superstições; poder dos sonhos (Madalena e Maria)
-Sebastianismo como possibilidade da libertação de Portugal (Telmo e Maria)
-Perfil romântico da mulher, ora fatal ora angélico ( Madalena e Maria)
-Amor desmedido e marcado pelo destino adverso (Manuel e Madalena)
-O tema da morte, física ou espiritual, como evasão aos conflitos (Madalena, Manuel, D. João e Maria)
-O culto e o poder do cristianismo como atenuação do sofrimento humano (Frei Jorge)
-A intenção pedagógica do autor, exemplificando o Nacionalismo, o Liberalismo e o Fatalismo (Manuel, D. João, Madalena e Maria)
-O mito do escritor romântico marcado pela solidão, pela infelicidade e pelo destino (Manuel, tornado Frei Luís de Sousa)
Frei Luís de Sousa: Sebastianismo
Frei Luís de Sousa apresenta uma tese anti-sebastianista, embora todo o texto se desenvolva em torno desta temática. O regresso do passado destrói o presente e inviabiliza o futuro. A mensagem que Garrett deixa passar aos seus contemporâneos (então dominados pela ditadura de Costa Cabral) é a de que não nos podemos deixar dominar nem seduzir pelo passado, apenas o presente conta e o futuro deve ser alvo do nosso empenho.
[...] Com a perda do jovem monarca [D. Sebastião], na batalha de Alcácer Quibir, e a posterior anexação de Portugal a Espanha, em 1580, o nosso país atravessa um dos períodos mais negros da sua História. D. Sebastião não deixa descendência, o que afunda Portugal numa época de inércia e de brumas, à espera de um heróico rei salvador. Da relutância s em reconhecer que, com a morte do rei, morria também o velho Portugal, nasce um mito: o Sebastianismo. O mito sebastianista sustenta a esperança messiânica e a crença nacional no regresso de D. Sebastião. O rei "Desejado" iria vencer toda a opressão, sofrimento e miséria em que Portugal vivia, restituindo-lhe o brilho e a glória de tempos passados.
A leitura interpretativa de Frei Luís de Sousa não pode esquecer a atuante presença do Sebastianis-mo e o que este mito do "Desejado" significava na conceção de Portugal: uma nação à procura da sua identidade, assombrada por mitos do passado.
A possibilidade teórica do regresso de D. Sebastião é simbolicamente representada na peça pelo regresso de D. João de Portugal, na figura do Romeiro. As personagens que melhor simbolizam a esperança no seu regresso são Telmo e Maria. Ao longo da peça, são várias as referências expressas à mítica figura de D. Sebastião [...]:
No primeiro diálogo entre D. Madalena e Telmo, D. Madalena censura ao velho aio as suas crendices sebásticas: "[...] as tuas alusões frequentes a esse desgraçado rei D. Sebastião, que o seu mais desgraçado povo ainda não quis acreditar que morresse, por quem ainda espera em sua leal incredulidade" (Ato I, cena II). [...]
As crenças sebastianistas de Telmo são assimiladas pela influenciável jovem Maria de Noronha, que acredita indubitavelmente no regresso do desejado monarca, D. Sebastião: "[...] que não morreu e que há de vir, um dia de névoa muito cerrada [...]" (Ato I, cena III). Esta influência de Teimo no espírito de Maria provoca grande aflição a D. Madalena de Vilhena: "[...] não vês que estás excitando com tudo isso a curiosidade daquela criança, aguçando-lhe o espírito [...]" (Ato I, cena II).
O incêndio da casa de Manuel de Sousa Coutinho permite a mudança de espaço físico, para o palácio de D. João de Portugal, e o contacto com o retrato de D. Sebastião, que merece a curiosa e entusiasmada atenção de Maria: "[...] é o do meu querido e amado rei D. Sebastião." (Ato II, cena I). Aliás, o incêndio da casa de Manuel de Sousa Coutinho não é só um viril ato de patriotismo, mas é fulcral para o entendimento do Sebastianismo na peça: o incêndio espelha a determinada busca de um novo espaço, e mesmo de uma nova ordem, para uma família assombrada pelo passado, que representa uma nação assombrada por mitos e sonhos, como o do Sebastianismo. Garrett parece dizer-nos que Portugal não se pode imobilizar na fixidez de um passado mítico, mas tem de mudar o rumo da sua história, procurar uma nova ordem.
Podemos, então, concluir que o mito do Encoberto assume uma conotação negativa em Frei Luís de Sousa, sendo perspetivado como sinal de paragem no tempo, de estagnação e de sacrifício do herói na catástrofe final: Maria de Noronha representa o sacrifício necessário para expiar os fan-tasmas do passado e definir o futuro do país. [...]
Mais do que meras personagens de um drama familiar, na peça de Garrett temos seres simbólicos, representativos do destino coletivo português, num momento de profunda crise política, devido à perda da independência. Neste sentido, a resposta "Ninguém!" do Romeiro a Frei Jorge pode ser associada a Portugal, um país subjugado pelo domínio filipino.
Por isso, a espera sebástica em Frei Luís de Sousa simboliza a problematização do modo de ser português, a autointerrogação de um Portugal que busca a sua identidade e não se encontra.
Fonte: http://www.escolavirtual.pt
Frei Luís de Sousa: Caracterização das Personagens
Telmo Pais
D. Madalena de Vilhena
D. João de Portugal
D. Maria de Noronha
Fonte: http://auladeliteraturaportuguesa.blogspot.pt/
Frei Luís de Sousa: Tempo
Tempo histórico: conjunto de referências a acontecimentos reais que conferem cor epocal ao texto e que permitem a sua inserção numa determinada época. No Frei Luís de Sousa encontramos referências a:
1. Batalha de Alcácer- Quibir, 4 de Agosto de 1578;
2. Reforma - meados do séc. XVI;
3. Governação por Castela, D. Filipe II de Espanha, I de Portugal, aclamado rei em 1580, pelo que se conclui que a ação representada se situa nos finais do séc. XVI, início do séc. XVII.
Tempo representado: tempo que medeia entre o início e o fim da ação representada. Assim, através das falas das personagens conclui-se que os Actos I e II estão separados por oito dias e que entre os Actos II e III, decorrem apenas algumas horas. Logo, o tempo representado será de oito dias (e mais algumas horas...).
Tempo da representação: tempo que é apresentado em cena e ao qual o leitor/espectador tem acesso. Nesta obra está limitado a três momentos fulcrais que correspondem aos três momentos-chave do desenvolvimento da intriga:
1. Exposição /Acto I – um dia: sexta-feira, 27 de Julho de 1599 (Acto I, cena 2, 27ª fala de Madalena);
2. Reconhecimento/ Acto II – um dia, 4 de Agosto de 1599;
3. Desenlace/catástrofe: uma noite, sexta para sábado, de 5 de Agosto de 1599 (Acto III, cena 1).
Tempo da diegese dramática: tempo global referido no texto dramático. Nesta obra será definido a partir da Batalha de Alcácer- Quibir (4 de Agosto de 1578) referida por D. Madalena na cena 10 do Acto II. Assim, assume especial importância para a definição dos limites da diegese dramática a cena 2, do Acto I.
Após o estudo do tempo pode-se concluir que, no Frei Luís de Sousa, não há respeito pela unidade de tempo, regra básica das tragédias clássicas (a acção dever-se-ia desenrolar em doze ou vinte e quatro horas, facto que ajudava à construção da tensão dramática), mas que a concentração temporal progressiva (vinte e um anos – catorze anos – sete anos – oito dias – um dia, cinco horas da madrugada) constitui um dos elementos fundamentais para a estruturação dessa mesma tensão dramática. Parece existir um afunilamento temporal que reduz as hipóteses de «saída» para as personagens que ficam presas numa espécie de rede da qual a única fuga possível é a morte (física ou psicológica).
Fonte: http://auladeliteraturaportuguesa.blogspot.pt/
Fonte: http://auladeliteraturaportuguesa.blogspot.pt/
Frei Luís de Sousa: Espaço
ACTO I
Palácio de Manuel de Sousa Coutinho, em Almada: num primeiro momento este espaço simboliza a paz e a aparente harmonia que domina a família. No entanto, o incêndio (final do Acto I) e a destruição do retrato de Manuel de Sousa Coutinho são já um prenúncio da catástrofe final.
ACTO II
Palácio de D. João de Portugal, também em Almada: este salão está imbuído de uma forte carga simbólica, não só pela quase ausência de luz pressagiadora da catástrofe final, mas também pelos retratos que, para além do carácter nacionalista que transmitem (D. Sebastião, Camões), evocam um passado ameaçador que inviabiliza o presente e, também, o futuro.
ACTO III
Parte baixa do palácio de D. João de Portugal: os espaços foram-se progressivamente obscurecendo e afunilando, tornando-se severos e despojados. Este último local é bem o símbolo da morte, e da impossibilidade de a superar, já que a única saída para uma família católica, que assume as suas convicções religiosas e sociais de forma clara e rígida, é a renúncia ao mundo e à luz.
Assim, e tal como o tempo o espaço assume, logo desde o início, um carácter pressagiador do desenlace final, contribuindo também para a intensificação progressiva da tensão dramática.
A atmosfera – Há ao longo da intriga dramática uma atmosfera psicológica do sebastianismo com a crença no regresso do monarca desaparecido e a crença no regresso da liberdade. Telmo Pais é quem melhor alimenta estas crenças, mas Maria mostra-se a sua melhor seguidora. Percebe-se também uma atmosfera de superstição, nomeadamente desenvolvida em redor de D. Madalena.
Fonte: http://auladeliteraturaportuguesa.blogspot.pt/
Fonte: http://auladeliteraturaportuguesa.blogspot.pt/
Frei Luís de Sousa: Ação
Frei Luís de Sousa é uma tragédia porque:
• as personagens desafiam o destino (hybris): Madalena casa com Manuel de Sousa Coutinho sem ter a certeza de que o primeiro marido está morto e Manuel incendeia o seu palácio para não receber os governantes castelhanos;• o sofrimento e a aflição das personagens vai-se acentuando, à medida que a ação progride (clímax e pathos) e atinge também os “inocentes” (Maria, a filha);
• há uma mudança repentina na ação (peripateia –“peripécia”), desencadeada por alguém que vem de fora, sucedendo o “reconhecimento” (anagnorise): o Romeiro é identificado como D. João de Portugal, o primeiro marido de D. Madalena;
• a partir deste momento, é impossível evitar a “catástrofe”(katastrophé): as consequências terríveis que atingem todos os que estão próximos de quem desafiou o Destino;
• Maria morre e os pais “morrem para o mundo”, vão para o convento;
• a catharsis (purificação) é feita pelo despertar no público de dois sentimentos: o terror e a piedade( referidos por Almeida Garrett na Memória ao Conservatório Real);
• Telmo e Frei Jorge têm um papel semelhante ao do Coro das tragédias gregas, tentando confortar as personagens.
Frei Luís de Sousa é um drama romântico porque:
• a ação decorre numa época histórica de resistência, de afirmação e defesa do nacionalismo (século XVII, perda da independência, ocupação castelhana);• remete para a crença no mito do Sebastianismo: D. Sebastião tinha “desaparecido” em Alcácer- Quibir e o seu regresso era a esperança que restava para a recuperação da independência de Portugal;
• referências várias a Camões, poeta de expressão do patriotismo;
• afirmação constante do nacionalismo, com a rejeição da presença dos castelhanos em terri-tório português;
• crença no regresso do morto-vivo, “personagem” de inspiração medieval ( D. João de Portugal);
• expressão hiperbólica de sentimentos, de estados de alma, frequentemente contraditórios e caóticos;
• crença em agoiros, superstições, simbologia premonitória dos sonhos (Madalena, Maria e Telmo);
• o cristianismo: Madalena e Manuel encontram o conforto na crença em Deus e na ida para o convento, em vez da morte violenta das tragédias;
• uso da prosa ( e não o verso, como era habitual na tragédia);
• divisão em três Atos ( e não os cinco da tragédia);
• não existe unidade de tempo nem de espaço: a ação não decorre em 24 horas nem no mesmo lugar;
• linguagem que exprime os estados de espírito das personagens: apóstrofes, frases exclamativas e interrogativas, frases inacabadas (com reticências), hipérboles...
Fonte: http://auladeliteraturaportuguesa.blogspot.pt/
sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
D.Sebastião
D.Sebastião - O Desejado
Foi rei da Segunda Dinastia e o 16º Rei de Portugal, foi filho de D.João de Portugal e de Dona Joana de Áustria, filha de Carlos V, nasceu em Lisboa a 20 de Janeiro de 1554 e morreu em Alcácer Quibir a 04 de Agosto de 1578 e está sepultado em Lisboa no Mosteiro dos Jerónimos sem quaisquer descendentes. Começou a governar em 1557 e terminou em 1578 Quando D.João III morreu, em 1557, já todos os seus 9 filhos já haviam falecido. Como herdeiro direto restava apenas um neto, D.Sebastião, que tinha nessa altura apenas três anos de idade. Foi nomeado um regente até que o jovem rei tivesse idade para governar. Quando fez quatorze anos, D.Sebastião tomou conta do governo. Sendo, além de jovem, muito religioso e influenciável, o seu modelo eram os antigos heróis e o seu sonho as grandes batalhas de combate aos infiéis. Daí que o seu principal projeto fosse conquistar Marrocos aos muçulmanos.
Não era, aliás, o único a defender esta ideia. Desde que a Índia começara a dar mais prejuízos que lucros, muita gente estava de acordo em que era preferível conquistar o Norte de África – zona rica em cereais e comércio – do que continuar a manter com grandes sacrifícios o Império do Oriente.
Com o que quase ninguém esteve de acordo – sobretudo as pessoas mais prudentes – foi com a maneira como D. Sebastião preparou e dirigiu a sua expedição ao Norte de África. Em 1578, tinha então vinte e quatro anos, partiu para Marrocos com um exército de 17000 homens, dos quais cerca de um terço eram mercenários estrangeiros.
Embora os militares mais experimentados na guerra o aconselhassem a não se afastar da costa de onde lhe poderia vir auxílio dos navios portugueses, o rei preferiu avançar para o interior com as suas tropas. Encontrou o exército muçulmano em Alcácer Quibir e aí se travou a célebre e infeliz batalha em que foram mortos ou feitos prisioneiros praticamente todos os portugueses que nela participaram.
O rei também morreu na batalha, mas nenhum dos portugueses que regressaram disse que viu o seu corpo. A chegada da notícia desse desastre a Lisboa provocou cenas de perturbação e dor indescritíveis.
Das famílias nobres, poucas eram as que não tinham perdido um ou mais dos seus filhos e parentes. Outros tinham ficado cativos em Marrocos e iria ser preciso pagar grandes importâncias para os libertar. Mas, sobretudo, os portugueses choraram o seu rei que tinha morrido solteiro e sem deixar descendentes. Dois anos depois, Portugal perdeu a sua independência política, visto que Filipe II rei de Espanha e neto do rei Dom Manuel I, subiu ao trono de Portugal.
Durante os anos que se seguiram, o povo acreditava que Dom Sebastião não tinha morrido na batalha e iria regressar a Portugal, numa noite de nevoeiro. Então, reclamaria para si o trono e o reino ganharia de novo a sua independência. Esta crença popular ficou conhecida na história com o nome de “Sebastianismo”.
Batalha de Alcácer Quibir
Figura da batalha de Alcácer-Quibir |
A Batalha de Alcácer-Quibir, conhecida em Marrocos como Batalha dos Três Reis , foi uma batalha travada no norte de Marrocos perto da cidade de Ksar-El-Kebir, entre Tânger e Fez, em 4 de Agosto de 1578.
Os combatentes foram os portugueses liderados pelo rei D. Sebastião aliados ao exército do sultão Mulay Mohammed (Abu Abdallah Mohammed Saadi II, da dinastia Saadiana) contra um grande exército marroquino liderado pelo Sultão de Marrocos Mulei Moluco (Abd Al-Malik, seu tio) com apoio otomano.
No seu fervor religioso, o rei D. Sebastião planeara uma cruzada após Mulay Mohammed ter solicitado a sua ajuda para recuperar o trono, que seu tio Abu Marwan Abd al-Malik I Saadi havia tomado. A batalha resultou na derrota portuguesa, com o desaparecimento em combate do rei D. Sebastião e da nata da nobreza portuguesa. Além do rei português, morreram na batalha os dois sultões rivais, originando o nome "Batalha dos Três Reis", com que ficou conhecida entre os Marroquinos.
A derrota na batalha de Alcácer-Quibir levou à crise dinástica de 1580 e ao nascimento do mito do Sebastianismo. O reino foi gravemente empobrecido pelos resgates que foi preciso pagar para reaver os cativos.
A batalha ditou fim da Dinastia de Avis e do período de expansão iniciado com a vitória na Batalha de Aljubarrota. A crise dinástica resultou na perda da independência de Portugal por 60 anos, com a união ibérica sob a dinastia Filipina.
Preparativos para a batalha
D. Sebastião empregara uma parte significativa da riqueza do Império Português para equipar uma grande frota e reunir um grande exército. Este incluía 2.000 voluntários de Castela (liderados por Alonso de Aguilar), 3.000 mercenários vindos da Alemanha e da Flandres (comandados por Martim da Borgonha) bem como 600 italianos inicialmente recrutados para ajudar uma invasão da Irlanda sob a liderança do Inglês Thomas Stukley, bem como o auxílio em armas e munições.
Fez-se o recrutamento do exército português, mas verificou-se alguma corrupção, o que fez com que o exército expedicionário, de cerca de 15 000 a 23 000 homens, fosse em parte pouco disciplinado, mal preparado, inexperiente e com pouca coesão.
A "elite" do exército era composta pelos "aventureiros", nobres portugueses veteranos nas guerras de África e do Oriente, e pelos "mercenários" estrangeiros, veteranos das guerras do norte da Europa. A força expedicionária terá reunido também 500 navios.
A "elite" do exército era composta pelos "aventureiros", nobres portugueses veteranos nas guerras de África e do Oriente, e pelos "mercenários" estrangeiros, veteranos das guerras do norte da Europa. A força expedicionária terá reunido também 500 navios.
Sebastião partiu de Lisboa a 25 de Junho de 1578, passou por Tânger, onde estava o Mulei Maamede, seguiu para Arzila e daqui para Larache, por terra, havendo quem preferisse que se fosse por mar, para permitir maior descanso às tropas e o necessário reabastecimento em víveres e água. Seguiram depois a caminho de Alcácer Quibir, onde encontraram o exército de Mulei Moluco, muito superior em número.
A Batalha:
A 4 de Agosto de 1578, perto de al-Kasr al-Kebir onde há hoje uma aldeia denominada Suaken, com o exército esgotado pela fome, pelo cansaço e pelo calor, deu-se a batalha.
O exército marroquino avançou em uma ampla frente planejando cercar as fileiras de D. Sebastião. Era composto por 10.000 cavaleiros nos seus flancos tendo em seu centro mouros vindos de Espanha, os quais guardavam especial ressentimento dos cristãos. Apesar de sua doença o Sultão Abd Al-Malik deixou sua liteira e liderou suas forças a cavalo.
O exército português nesta batalha tinha uma primeira linha (vanguarda) composta pelos "aventureiros" portugueses, comandados por Cristóvão de Távora, e pelos voluntários e mercenários estrangeiros, por uma ala esquerda de cavalaria pesada comandada pelo Rei D.Sebastião e por uma ala direita de cavalaria comandada pelo Duque de Aveiro. A segunda linha de infantaria (batalha) era comandada por Vasco da Silveira e a terceira linha de infantaria (retaguarda) por Francisco de Távora. A artilharia estava posicionada sobretudo na primeira linha.
A batalha começou com ambos os exércitos trocando fogo de mosquetes e artilharia. Thomas Stukley, comandando os voluntários italianos foi morto por uma bala de canhão no começo da batalha. A superior, em número, cavalaria moura avançou cercando o exército português, enquanto as forças principais se engajavam completamente em combate corporal. No centro da vanguarda do exército português, os experientes "aventureiros" comandados por Cristóvão de Távora avançaram com grande ímpeto provocando o recuo e a debandada da vanguarda moura. Para deter essa debandada das suas forças, o debilitado Mulei Moluco, monta o seu cavalo pela última vez e morre com o esforço momentos depois. A sua morte é ocultada até ao final da batalha. Próximo do acampamento do líder mouro, o ataque português perde impulso após o comandante se ter apercebido que tinham ficado demasiado afastados do restante exército, assim, correndo risco de isolamento começam a recuar. Vendo seus flancos comprometidos pelo ataque da cavalaria moura, ameaçado ele próprio pela mesma e em retirada o centro português perdeu as esperanças e foi subjugado lentamente. D.Sebastião perante a derrota inevitável, recusa os conselhos de outros nobres para que se renda, tendo dito: "Senhores, a liberdade real só há de se perder com a vida". Os nobres que o acompanhavam a cavalo conformam-se em prosseguir o combate até ao fim, tendo D.Sebastião dito a estes: "Morrer sim, mas devagar!"
Desenlace:
A batalha terminou após 4 horas de combate intenso com a completa derrota dos exércitos de D.Sebastião e Abu Abdallah Mohammed II Saadi com quase 9.000 mortos e 16.000 prisioneiros nos quais se incluem grande parte da nobreza portuguesa. Talvez 100 sobreviventes tenham escapado com custo.
Abu Abdallah Mohammed II Saadi, aliado dos portugueses, tentou fugir ao massacre em que a batalha se convertera mas morreu afogado no rio. O Sultão Abd Al-Malik (Mulei Moluco) também morreu durante a batalha, mas de causas naturais, uma vez que o esforço da batalha foi demais para seu estado debilitado. D. Sebastião por sua vez desapareceu liderando uma carga de cavalaria contra o inimigo e seu corpo jamais foi encontrado. Nestas condições, o exército português, pesem alguns atos de grande bravura, foi completamente dizimado. Apesar de na época duvidarem da morte do rei português, é muito provável que ele nesta batalha tenha perecido.
Entre os prisioneiros na batalha de Alcácer-Quibir, estava D. António de Portugal, Prior do Crato que, conta-se, conseguiu a libertação com recurso à astúcia: quando lhe perguntaram o significado da cruz de S. João que usava, respondeu que era o sinal de uma pequena mercê que tinha obtido do papa, e que a perderia se não voltasse até 1 de Janeiro. O seu captor, pensando que se tratava de um homem pobre, permitiu a sua libertação em troca de um pequeno resgate.
Consequências da Batalha:
As consequências desta batalha foram catastróficos para Portugal. D. Sebastião desaparecera, deixando como sucessor o seu tio-avô, o Cardeal D. Henrique, que veio a falecer sem descendência dois anos depois. Assim iniciou-se uma crise dinástica ameaçando a independência de Portugal face a Espanha, pois um dos candidatos à sucessão era o seu tio, Filipe II de Espanha.
A disputa do trono português teve vários pretendentes: D. Catarina de Médici, rainha da França, que se dizia descendente de D. Afonso III; D. Catarina, duquesa de Bragança e sobrinha do Cardeal D. Henrique; Manuel Felisberto, duque de Savoia e António de Portugal, Prior do Crato, ambos, sobrinhos do rei; Alberto de Parma e Filipe II.
Filipe efetivamente ascendeu ao trono em 1580. A maioria da nobreza portuguesa que participara na batalha ou morreu ou foi feita prisioneira. Para pagar os elevados resgates exigidos pelos marroquinos, o país ficou enormemente endividado e depauperado nas suas finanças.
Luís Vaz de Camões escreveu, numa carta a D. Francisco de Almeida, referindo-se ao desastre de Alcácer-Quibir, à ruína financeira da Coroa portuguesa e à independência nacional ameaçada: "Enfim acabarei a vida e verão todos que fui tão afeiçoado à minha Pátria que não só me contentei de morrer nela, mas com ela".
Perto de al-Kasr al-Kebir, numa aldeia denominada Suaken onde se deu a Batalha e, provavelmente, onde foram, naquela altura, enterrados os três reis, encontra-se um obelisco em memória de D. Sebastião e mais dois em memória dos outros dois reis. A batalha ainda hoje é conhecida em Marrocos como a "Batalha dos Três Reis".
quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
Memória ao Conservatório Real
O Conservatório de Arte Dramática foi criado pela rainha D. Maria II por um decreto de 15 de Novembro de 1838. Ficou estabelecido que este incluiria escolas de Artes Dramáticas, Música, Dança, Mímica e Ginástica Especial.
A Memória ao Conservatório Real foi lida, por Almeida Garrett, em conferência no Conservatório Real de Lisboa, a 6 de maio de 1843, a propósito do Frei Luís de Sousa.
Nessa altura, também o texto de Frei Luís de Sousa foi dito a uma só voz, a de Garrett, para os seus pares do Conservatório. O próprio Almeida Garrett reconheceria, mais tarde, que o facto de o seu drama ter tido "favorável juízo do Conservatório" ajudou a que começasse a ser "benquisto do público antes ainda de lhe ser apresentado".
Na Memória ao Conservatório Real, Almeida Garrett compara "a desesperada resignação de Prometeu" e os remorsos de Édipo nas tragédias da antiguidade clássica e conclui que não são superiores aos "tormentos de coração e de espírito" que aqui padece Manuel de Sousa Coutinho, "o amante delicado, o pai estremecido, o cristão sincero e temente do seu Deus". Compara ainda os terrores de Jocasta (que "fazem arrepiar as carnes, mas são mais asquerosos do que sublimes") com a dor, a vergonha, os sustos de D.Madalena de Vilhena que "revolvem mais profundamente no coração todas as piedades".
Afirma que o conteúdo do Frei Luís de Sousa tem todas as características de uma tragédia. No entanto,chama-lhe drama, por não obedecer à estrutura formal da tragédia. Refere a peça Comédia Famosa a que assistira, na Póvoa de Varzim, sobre o mesmo tema, representada por actores castelhanos.
Nesta Memória ao Conservatório, Almeida Garrett apresenta o seu drama romântico Frei Luís de Sousa como derradeiro "trabalho dramático". Este texto constituiria, assim, o balanço da sua intervenção na renovação do teatro em Portugal e uma reflexão sobre a herança clássica e as influências românticas.
Frei Luís De Sousa
Manuel de Sousa Coutinho, conhecido pelo pseudónimo de Frei Luís de Sousa foi um sacerdote católico e escritor português.
Biografia:
Era o quarto ou quinto filho de Lopo de Sousa Coutinho, um militar que combateu na Índia e foi governador da Mina no tempo de D. João III, e de D. Maria de Noronha, filha de D.Fernando de Noronha, Capitão de Azamor.
Com pouco mais de vinte anos, viajando junto às costas da Sardenha, é feito aí prisioneiro por corsários mouros que o encarceraram em Argel, vindo a conhecer na prisão Miguel de Cervantes. Libertado em 1577, regressando depois a Portugal, onde foi, em 1580, nomeado Alcaide e capitão-mor de Marialva. Por volta de 1583 casou-se com Madalena de Vilhena, viúva de D. João de Portugal. Foi provedor da Santa Casa da Misericórdia de Almada por três vezes.
Em 17 de Março de 1594 foi feito fidalgo cavaleiro. Em 1600 é Capitão-Mor de Almada e seu Guarda-Mor da Saúde.
Grassava então a peste em Lisboa e os Governadores do Reino, fugindo a ela, transferiram-se para Almada. Tendo eles requisitado para seu alojamento a propriedade de Manuel de Sousa, este, indignado, deitou fogo à própria casa. Por forma a evitar represálias, refugiou-se de seguida em Espanha, onde continuou a prestar diversos serviços ao rei Filipe II de Espanha (I de Portugal).
Após um período do qual poucas notícias há, mas durante o qual se sabe que esteve na América do Sul, nomeadamente no Panamá e Peru, decidiu em 1613, juntamente com a sua esposa, abraçar a vida religiosa, ingressando no dominicano Convento de São Domingos de Benfica no dia 8 de Setembro de 1614 e a sua mulher, no Convento do Sacramento também em Lisboa.
Ao tornar-se frade, adoptou o nome de Frei Luís de Sousa, dedicando-se inteiramente à escrita, nomeadamente à hagiografia e à monografia. Foi cronista da sua Ordem em Portugal, tendo viajado por diversos conventos, recolhendo materiais para completar a monumental obra "História de São Domingos", cujo esboço tinha sido iniciado por Frei Luís de Cácegas anos antes.
É hoje considerado um dos mais brilhantes autores de língua portuguesa.
Obra:
- Navigatio Antartica ad Doctorem Franciscum Guidum, civem Panamensem.
- Vida de Dom Frei Bartolomeu dos Mártires (1619), dividida nos livros primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto e sexto.
- Primeira Parte da História de S. Domingos (1623).
- Segunda Parte da História de S. Domingos (publicada em 1662 por Frei António da Encarnação).
- Terceira Parte da História de S. Domingos (publicada em 1678; foi depois publicada uma quarta parte da História dos Dominicanos, em 1733, escrita por Fr. Lucas de Santa Catarina).
- Anais de el-Rei D. João III (escrito entre 1628 e 1632 e só publicado em 1844, por A. Herculano).
- Vida de Soror Margarida do Sacramento.
- Vida do Beato Henrique Suso da Ordem dos Pregadores traduzida de latim em português (publicado em 1642).
- Considerações das Lágrimas Que a Virgem N. Senhora Derramou na Sagrada Paixão (publicado em 1646).
Frei Luís de Sousa |
Características da Obra:
quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
Vida e Obra de Almeida Garret
Nome completo do escritor: João Batista da Silva Leitão de Almeida.
Nasceu no Porto em 1799 e faleceu em Lisboa em 1854.
O apelido irlandês está na genealogia da família: Garrett é o nome da sua avó paterna, que veio para Portugal no séquito de uma princesa.
A obra “Frei Luís de Sousa” concentra-se no período da vida de Manuel de Sousa Coutinho imediatamente antes do seu ingresso, juntamente com a esposa D. Madalena de Vilhena, na vida monástica: um seu biógrafo atribuiu essa decisão ao facto de o primeiro marido de D. Madalena, D. João de Portugal, tido por morto na Batalha de Alcácer Quibir, estar ainda vivo e ter regressado a Portugal, tornando ilegítimo o casamento de D. Manuel e bastardos seus filhos. Garrett acentua o carácter dramático desta situação, dando ao casal uma única filha adolescente, Maria de Noronha, e um aio ainda dedicado à figura do seu velho amo, D. João de Portugal. O desfecho trágico é desencadeado pelo nacionalismo de Manuel de Sousa Coutinho, que prefere pôr fogo ao seu palácio a nele acolher os representantes da opressão espanhola e se vê forçado a tomar residência no antigo paço que fora de D. João de Portugal; este regressa ao antigo lar, disfarçado de romeiro, e confirma as apreensões de D. Madalena ao se identificar com o retrato de D. João. Os esposos adúlteros, falecida a filha, decidem ingressar na vida religiosa.
Subscrever:
Mensagens (Atom)